EDUCAR PARA O PERMANENTE

A educação para o permanente se refere a que todo o conhecimento e todas as práticas educativas sejam consagrados e deem um sentido perdurável à vida. Logo, a educação permanente é integral, assente na formação humana.

Por : Sheyla Fontenele

Educar para o permanente – Uma reflexão necessária para pais e professores

Todos os dias nossas crianças e jovens recebem uma enxurrada de informações, por parte da família, da escola, da mídia, das redes sociais, da vida de relação como um todo. Mas em que esse acúmulo de dados – na maior parte das vezes desconectados - contribui para que crianças e jovens construam uma existência que faça sentido no mundo, que os ajude a confiar em si mesmos de modo a sentir-se seguros na condução feliz da própria vida?

O que pouco se pensa, é que cada um de nós chegou a esse planetinha com uma ampulheta física. Recebemos um bilhete de vinda para cá, e com dia marcado, e cuja data de volta.. desconhecemos. E que jornada é essa? Decerto não viemos a passeio. O fato é que essa jornada necessita de conhecimentos transformadores, permanentes, com sentido. Nada que seja somente sirva para fazer peso inútil ou circunstancial em nossa bagagem individual.

Mas será que nós, escola, família, temos a clareza de quais são os conhecimentos que realmente uma criança necessita para realizar essa jornada?

Apresento três reflexões que te ajudar na forma de educar em direção ao que é permanente..

REFLEXÃO 1. O QUE É EDUCAÇÃO PARA O PERMANENTE?

Primeiramente, o que é ‘educação para o permanente’? Perceberam que disse para o permanente? Pois uma coisa é a educação permanente baseada na ideia de educação para toda a vida, que é fundamental também, e outra a educação para o permanente, que se refere entender o conhecimento como alimento da vida. E isso precisa ser compreendido de forma muito concreta, palpável dentro de cada um de nós.

Todas, mas todas as áreas da vida, precisam de conhecimento. E a educação para o permanente se refere a que todo o conhecimento e todas as práticas educativas sejam consagrados e deem um sentido perdurável à vida. A educação permanente busca conhecimentos que viram saberes. Mas saberes que nos levem a SER, e não a ESTAR. É um compromisso com o bom, o justo, o belo...E não me refiro a essa beleza fabricada – mas a beleza que é o resultado natural de nossa transformação interior. O ser humano buscando ser ele próprio uma obra de arte. Isso é educar para o permanente.

REFLEXÃO 2. A EDUCAÇÃO PRECISA SER INTEGRAL.

A educação permanente enxerga o ser humano de forma Integral. Relaciona-se, portanto, à educação INTEGRAL. E nada de confundir educação integral com a educação de tempo integral, em que a criança para dois turnos na escola. A educação integral reconhece que somos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais. A espiritualidade não se refere diretamente à religião, mas a ligação com o nosso ser, com o sagrado que habita em nós.

Logo, a educação a partir desse lugar, não poderá simplesmente estar focada no conhecimento intelectual. Os conhecimentos científicos são pontes. A educação integral não abre mão dos conhecimentos científicos, mas é aquela que permite que esses conhecimentos façam sentido, que se liguem à vida.

Vamos dar um exemplo simples.

A educação que é de base integral, permite que na hora que o professor for ensinar a criança a fazer operações matemáticas convencionais (adição, subtração, multiplicação, divisão), permita que esse conhecimento técnico, operacional se ligue à vida. Faça sentido. Esse professor, humanizará o conhecimento de modo que a criança perceba que a divisão não é apenas um cálculo mecânico, mas uma forma de compreender o valor da justiça. Então, se há 4 crianças e 8 pedaços de bolo, cada uma das receberá 2 pedaços. Mas e se chegasse mais um amigo? Como essa divisão poderia ser reorganizada de forma justa? Essa linha de pensamento também se aplica à educação em todos os níveis de ensino e até em casa. Por exemplo, em casa, a família na hora de levar a criança para a escola, pode e deve aproveitar esse tempo para criar espaços de reflexões positivas. Tudo vira vida nessa forma de ensinar.

Logo, na educação integral o conhecimento se liga a vários outros, na intenção de humanizar.

Agora uma reflexão para ilustrar. Em minha própria vivência de quando tinha seis anos em que eu aprendia a ler, a professora escreveu no quadro a seguinte frase “Vovô viu a UVA”...E tínhamos de repetir essa frase em uníssono. Eu repetia, mas também me perguntava: - E daí que vovô viu a uva..eu mesma vi uma UVA ontem.. Mas continuávamos a repetir.

Esse tipo de educação ainda faz parte de nossa cultura e não preenche nossas necessidades como seres integrais que somos. E confesso que, teria sido melhor se ao invés de “vovô viu a uva”, o meu vovô ou de algum coleguinha pudesse ter contado de onde veio a uva, como ela cresce, quem a plantou, dizer quantas uvas havia no cacho, comparar tamanhos, aprender brincando. Olha a diferença!

REFLEXÃO 3. SER X APARENTAR.

Estamos imersos em uma cultura que precisa aparentar o que não é e isso surge a partir de uma pressão social, dos próprios sistemas educativos e até da familia. Culturalmente, fomos acostumados associar a felicidade ao TER. É algo que preciso ter..a felicidade e em geral, ter SUCESSO. E o sucesso, no mundo corrente, significa ocupar o primeiro lugar em tudo, obter notas altas, realizar provas bem-sucedidas... Em suma, a educação acaba sendo reduzida a um ranking, onde só eu estou no topo. Um exemplo disso em minha vida. Quantas vezes, como professora, ouvi alunos –jovens e adultos, e mesmo crianças – me perguntarem: “Isso vai cair na prova professora...?” Quando, na verdade, eu gostaria de ter escutado: “Isso é importante aprender para a minha vida, professora?” E essa é também uma preocupação excessiva da família.

Outro ponto que percebo nessa cultura da perfeição é a falta de resiliência emocional diante de resultados considerados não satisfatórios. Crianças e jovens são alimentados pela ideia de que só a "nota 10" tem valor. E se frustram imergindo em um estado muitas vezes de angústia por tirarem 8,0 – como se isso fosse um fracasso. Mas, veja bem, acertar 80% de algo já é um ótimo desempenho! Essa exigência excessiva cria ansiedade, medo de errar, e especialmente um estado de ilusão, em que o ‘10’ fictício não traduz, o que foi realmente aprendido. Então, vamos fugir desse tipo de contra-educação !!

REFLEXÃO FINAL

Por que mesmo precisamos de uma educação voltada para o permanente? Porque a educação permanente é aquela que cria em nossas crianças e jovens A conexão com o propósito da vida. Cria a conexão com a vontade de ser uma pessoa ‘melhor a cada dia’. Isso em toda as dimensões da vida..no agora ela será um melhor filho, um melhor aluno e no futuro, um melhor pai, uma melhor mãe, um melhor profissional..um melhor ser humano..Alguém que literalmente deixa SUA marca no mundo.

A educação permanente não morre com o ser, permanece na vida dos demais. É a educação que humaniza. E que não se apaga com o tempo. Educar no permanente é deixar um legado de bem.

Agora eu te pergunto: que legado você está deixando para suas crianças, seus filhos e para o mundo? Fica a pergunta. GUARDEM a resposta no coração.